Isto de escrever versos de amor é das coisas mais dificeis que há - impossível não descambar para o lugar-comum. Te dis des mots, toujours les mêmes... confessa o próprio autor de Toi et moi. E depois, meu Deus, acontece sempre uma senhora que pergunta pra gente:
- Quem é ela?
Claro que não é ninguém. A não ser os poetas de arrabalde, não há quem faça versos para "ela". Existe a contínua disponibilidade de amor, é claro, e aparecem umas que outras "elas" que ocasionalmente se gruda nesse sentimento do poeta como em papel pega-moscas.
E acontece que o poeta faz um dia um poema. Para quem? Para ninguem e para todas.
E desconfio muito de que, no geral das vezes, sucede como naquela peça de Lope de Vega, em que um protagonista pergunta a outro:
- Por quem choras?
- Por ninguém. Eu choro de puro amor.
_____Mario Quintana - Porta Giratória
POEMA DE SETE FACES
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! [Maria] ser gauche na vida.
(...)
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
Carlos Drummond de Andrade
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